A proclamação do Ano da Fé pelo Papa
Bento XVI, no último mês de outubro, e a escolha da temática da fé para
orientar os trabalhos da RCC em 2013 são convites explícitos a um
testemunho cristão verdadeiro.
Diante de um contexto social, muitas vezes, hostil à fé, aprofundarmo-nos em tal assunto é fundamental para uma vida autêntica.
Por James Apolinário
Presidente do Conselho Estadual da RCC Ceará
Grupo de Oração Água Viva
No contexto social de hoje, com modelos e exigências que conduzem os
homens a crerem apenas em si próprios, nas suas capacidades, forças,
talentos, planos e dinheiro, viver a fé é um grande desafio. Num mundo
permeado de ideologias laicistas, hedonistas e relativistas, a fé em
Deus encontra-se muito fragilizada e, na maioria das vezes, se tornou
uma fé tradicional, vaga, confusa, subjetiva, superficial, fria e
indiferente. O Espírito Santo quer ser o artífice da fé e vem ao mundo
de hoje reavivar, dar um novo sentido à vida cristã. E a Renovação
Carismática Católica, como movimento eclesial, estará em 2013
mobilizada na proclamação da fé. Como movimento profético, a RCC em todo
Brasil declarará publicamente que a vitória que vence o mundo é a nossa
fé (cf I Jo 5,4b). Na tentativa de colaborar na reflexão sobre esse
tema, pretendo transcorrer neste artigo a via da fé contida nas Sagradas
Escrituras, no Magistério da Igreja e o conceito da fé carismática.
A Fé segundo as Sagradas Escrituras
No capítulo 11 da carta os Hebreus, o autor relata repetidamente que
“foi pela fé” que no Antigo Testamento tudo ganhou sentido, foi
realizado e criado. O termo “fé” era usado para expressar um
relacionamento interpessoal com Deus, num sentido de entregar-se a Ele
(Gn 15,6; Ex 14,31; Nm 14,11), de todo o teu coração, de toda alma e de
todas as forças (Dt 6,5), entregar-se à palavra salvífica de um Deus que
conduz a história. Desde Abraão, a Palavra de Deus já trata da fé (Gn
22,1) provada para mostrar uma obediência fiel à voz de Deus, utilizada
para designar o ato de ser firme e fiel. Assim, a fé é um ato pessoal: a
resposta livre do homem à iniciativa de Deus que se revela. Ela não é,
porém, um ato isolado. Ninguém deu a fé a si mesmo, assim como ninguém
deu a vida a si mesmo. Por isso dizemos que nossos desejos e interesses
devem fundir-se com a vontade de Deus, pois eles se manifestam se nossa
fé é verdadeira e sincera, repousando unicamente na Palavra de Deus.
Significa também conhecer a unidade e a verdadeira dignidade de todos os
homens. Todos eles são feitos "à imagem e à semelhança de Deus" (Gn
1,27).
O apóstolo Paulo nos diz que “O justo viverá pela fé.” (Rm 1,17) –
“Porque andamos pela fé e não pelo que vemos.” (II Cor 5,7). A fé, pois,
é um elo do humano com o divino para trazer à vida do homem o poder de
Deus na luta contra o poder do mal. No Novo Testamento a fé é
relacionada de inúmeras formas, mas tendo como único centro a pessoa de
Jesus, anunciando incansavelmente o Reino de Deus por palavras e obras
num apelo a uma reposta na fé para a aceitação do plano de Deus. Esse
plano mostra que o encontro pessoal e direto com Jesus é a fonte de
conhecimento da própria existência do homem e de Deus. Que para conhecer
Deus e Nele crer, devemos conhecer acima de tudo Aquele que foi enviado
por Ele e Nele crer. É necessária uma entrega, um abandono como o
coração de uma criança, em virtude dessa mesma fé.
A Fé segundo o Magistério da Igreja
O Papa Bento XVI, em sua carta escrita de motu próprio, ou seja, "de
sua iniciativa própria", intitulada de Porta Fidei – indica que a porta
da fé , que introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na
Sua Igreja, está sempre aberta para nós. A Proclamação do Ano da Fé,
iniciado no último dia 11 de outubro, mostra que a identidade própria
dos cristãos se dá mediante a fé, via única para o encontro pessoal com
Cristo-Palavra e Cristo-Eclesia por assim torna autêntico o testemunho
de ser cristão.
A Igreja precisa se opor às "marés de modismos e das últimas novidades”
. Na medida em que as mudanças de época atingem os critérios de
compreensão, os valores e as referências, os quais já não se transmitem
mais com a mesma fluidez de outros tempos, torna-se indispensável
anunciar Jesus Cristo, apresentando, com clareza e força testemunhal,
quem é Ele e qual sua proposta para toda a humanidade. De um lado é o
agudo relativismo, próprio de quem, não devidamente enraizado, oscila
entre inúmeras possibilidades oferecidas. De outro, são os
fundamentalismos que, se fechando em determinados aspectos, não
consideram a pluralidade e o caráter histórico da realidade como um
todo. O laicismo militante, com posturas fortes contra a Igreja e a
verdade do Evangelho, a irracionalidade da chamada cultura midiática, o
amoralismo generalizado. O niilismo definido como a implosão da
subjetividade, como uma descrença em qualquer fundamentação metafísica
para a existência humana; as atitudes de desrespeito diante do povo; um
projeto de nação que nem sempre considera adequadamente os anseios deste
mesmo povo.
...a vitória que vence o mundo: Fé Carismática
A fé é um dom que o Espírito Santo colocou à disposição do homem para
que ele possa experimentar da onipotência de Deus. Mas, como alcançar a
fé que traz a vitória? A Vitória é o resultado de quem luta!
Estamos em luta constante contra os principados e potestades, contra os
príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal
(espalhadas) nos ares. (Ef 6,12). O mundo, no contexto do trecho de 1 Jo
5,4b,não significa a terra como realidade temporal. O mundo, aqui,
significa tudo o que resiste à Obra de Deus, tudo e todos os que não
creem. Mundo como a soma de todos os poderes transitórios que se opõem a
Deus. A fé como carisma – fé espectante - que todos temos em certa
medida, a qual pode ser desenvolvida e tornar-se uma força vencedora na
vida do homem, se manifesta quando uma pessoa é movida a ter uma
confiança íntima de que Deus agirá precisamente de forma atual. Essa
confiança leva a uma oração convicta, a uma decisão, a uma firmeza de
atitude, a um ato que libera a bênção de Deus (cf. Mc 11, 22-23; Mt 11,
24; Ex 14, 13-14; 1Rs 18, 20-40).
Urge a necessidade de uma proclamação da fé por todos os cristãos que
realiza-se através do testemunho prestado pela vida dos que creem: de
fato, os cristãos são chamados a fazer brilhar, com a sua própria vida
no mundo, a Palavra da verdade que o Senhor Jesus nos deixou. “A fé é o
fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê” (Hb
11,1). Essa certeza de que Deus age é tão especial e o resultado
manifesta a glória de Deus. A Bíblia nos diz que “Sabendo que a prova da
vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança” (Tg 1,3). A fé,
precisamente, é um ato da liberdade, exige também assumir a
responsabilidade daquilo que se acredita. É possível cruzar esse limiar,
quando a Palavra de Deus é anunciada e o coração se deixa plasmar pela
graça que transforma. A Igreja que anuncia e transmite a fé imita o
próprio agir de Deus que se comunica à humanidade dando o Filho, que
infunde o Espírito Santo sobre os homens para regenerá-los como filhos
de Deus. Temos que vencer o mundo como Cristo o venceu! "Tende bom
ânimo, Eu venci o mundo" (Jo 16,33).
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