Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém/PA
Assessor eclesiástico da RCCBRASIL
Santidade é vocação de todos os cristãos, sem exceção. A redescoberta
da Igreja como um povo unido pela unidade do Pai e do Filho e do
Espírito Santo, não pode deixar de implicar um reencontro com sua
santidade, entendida no seu sentido fundamental de pertença àquele que é
o Santo por antonomásia, o três vezes Santo (cf. Is 6,3). Professar a
Igreja como santa significa apontar o seu rosto de Esposa de Cristo, que
a amou entregando-se por ela precisamente para santificá-la (cf. Ef
5,25-26). Este dom de santidade é oferecido a cada batizado. Mas, o dom
gera um dever, que há de moldar a existência cristã inteira: “Esta é a
vontade de Deus: a vossa santificação” (1Ts 4,3). É um compromisso que
diz respeito aos cristãos de qualquer estado ou ordem, chamados à
plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. Significa exprimir a
convicção de que, se o Batismo é um ingresso na santidade de Deus
através da inserção em Cristo e da habitação do seu Espírito, seria um
contrassenso contentar-se com uma vida medíocre (cf. Novo Millenio
ineunte 30-31).
A formação da cultura dos povos é marcada positivamente pela presença
da Igreja e por homens e mulheres que se elevam pelo seu comportamento e
suas opções de vida, mostrando que efetivamente é possível sair da
rotina do “mais ou menos”, para ser daqueles que confirmam que uma alma
que se eleva, eleva o mundo. Tenho descoberto esta santidade em homens e
mulheres que a testemunham na fidelidade ao Evangelho, na coerência de
suas opções e na estatura com que enfrentam as dificuldades da vida. Há
que abrir os olhos e descobrir tais pessoas, vendo-as como provocação
positiva ao risco de acomodamento que nos cerca continuamente.
A Igreja reconhece publicamente a santidade, com o que chama
“beatificação” e “canonização”. Hoje o Brasil já conta com diversas
pessoas assim reconhecidas, entre cristãos leigos, religiosos ou
sacerdotes, crianças, jovens e adultos, confessores da fé e mártires.
São homens e mulheres cuja santidade heroica merece ser posta diante dos
olhos do mundo. Não nos envergonhemos de dizer que os cristãos têm para
oferecer ao mundo o que existe de melhor em humanidade. Não nos
furtemos à responsabilidade de superar as falhas humanas existentes com a
virtude comprovada e testemunhada. Nosso tempo tem direito a receber
dos cristãos a oferta da santidade. Ao reconhecer que o mistério da
iniquidade se encontra presente no meio do mundo e também entre os
cristãos, continue como referência a medida alta da santidade!
No período em que nos encontramos, chamado pela Igreja de “tempo
comum”, as verdades do Evangelho são mostradas a todos pelo testemunho
dos santos e santas que se consagraram a Cristo e são sinais luminosos
de luta e de perfeição, além de reconhecidos como valorosos
intercessores para aqueles que acreditam “na comunhão dos santos”, como
dizemos na profissão de Fé. E, como sempre acontece, os santos de maior
devoção geraram cultura e hábitos na sociedade. Multiplicam-se as festas
patronais em nossa região, muitas pessoas retornam a sua terra natal
para as férias que se aproximam e para se alimentarem de legítimas e
positivas tradições religiosas que contribuem para que se tome
consciência de que não nos inventamos a nós mesmos, mas somos
tributários de uma magnífica herança, como tocha da grande olimpíada da
vida a ser mantida acesa e passada às sucessivas gerações. São
conhecidos de forma especial os santos do mês de junho, Santo Antônio,
São João Batista e São Pedro. São figuras que geraram cultura popular
entre nós.
Ponho em relevo, de modo especial, a figura de São João Batista, cujo
nome, vida e missão são reconhecidos pela tarefa que a Providência
divina lhe confiou, como Precursor da chegada do Messias, aquele que
mostrou presente o Salvador do mundo, pregador da penitência, capaz de
abrir nos corações humanos a estrada, para que chegasse aquele “que tira
os pecados do mundo”, como foi por ele mesmo apresentado (cf. Jo 1,29).
Um dia, Jesus recebeu emissários de João Batista, com a pergunta
sobre sua identidade de Messias. De fato, João se revelou sempre radical
em suas escolhas e profundamente honesto em seu desejo de fidelidade à
missão recebida. Mandou-lhe a magnífica resposta: “Ide contar a João o
que estais ouvindo e vendo: cegos recuperam a vista, paralíticos andam,
leprosos são curados, surdos ouvem, mortos ressuscitam e aos pobres se
anuncia a Boa-Nova. E feliz de quem não se escandaliza a meu respeito!”
(Mt 14,4-5). Às multidões de ontem e de hoje Jesus fala sobre João
Batista: “Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Que
fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Olhai, os que vestem
roupas finas estão nos palácios dos reis. Que fostes ver então? Um
profeta? Sim, eu vos digo, e mais do que profeta. Este é de quem está
escrito: Eis que envio meu mensageiro à tua frente, para preparar o teu
caminho diante de ti (Mt 14, 7-10).
Viver para servir, ser honestos na procura da verdade e coerentes no
comportamento! Com exemplos de tal quilate descobrimos o quanto é bom
viver para servir e amar. A vida e missão de João Batista, unidas à sua
oração fervorosa, nos façam acolher as verdadeiras alegrias vindas do
Salvador e nossos passos se dirijam no caminho da salvação e da paz.
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